LÚCIFER: O QUE VALE A PENA SABER

Quando pastoreava a congregação da Assembleia de Deus no Riacho Fundo I, em Brasília, DF, abri uma série de estudos bíblicos sobre os seres angelicais e seu intrigante ‘trânsito’ entre os humanos. Enquanto discorri sobre os seres angelicais como ministros de Deus, protetores, benfazejos e serviçais dos ‘santos’, correu tudo muito bem.

Chegada a vez, porém, de falar sobre os anjos malfazejos (demônios) e seu chefe Satanás, sofri um inexplicável revés. Na ocasião havia recebido uma família para congregar conosco, mas, após o segundo estudo, ela foi embora alegando não querer congregar numa igreja que fala de demônios.

E eu, por um pouco de tempo, tomado De espanto, confesso que me acovardei. Suspendi a série de estudos, até reavaliar melhor sua aplicabilidade para os congregados de então. Contudo, continuei minhas pesquisas sobre esses seres, visto que, à época, ocupava a cadeira de professor de angelologia da Faculdade de Teologia da Assembleia de Deus de Brasília, FATADEB.

Pensei, depois, se vale a pena voltar ao tema utilizando-me deste blog, deixando ao leitor a decisão de lê-lo ou não. Optando pelo sim, maquinei questões: é possível fugir da influência do Diabo, sem conhecer seus eixos de atuação? É possível combater um inimigo se não o conheço? Como “fugir” de um inimigo se não sei quem é, se não sei sua forma de agir, nem onde se encontra?

Para começar, o que sabemos é que os demônios são seres espirituais criados por Deus, mas que se rebelaram contra este, chefiados pelo seu príncipe, Lúcifer. Por causa disto foram expulsos do céu. O líder, mais uma terça parte dos que habitavam lá: “E foi precipitado o grande dragão, a antiga serpente, chamada o diabo e Satanás, que engana todo o mundo; ele foi precipitado na terra, e os seus anjos foram lançados com ele” (Ap 12,7-9).

Lúcifer, o Chefe

O líder das hostes malignas chama-se Lúcifer. Ele ostenta outros nomes e títulos como Satanás, Diabo, “a antiga serpente”, Dragão, etc. O nome ‘Lúcifer’ induz-nos a uma espécie de repulsa, por causa da carga simbólica do mal, que representa. Essa repulsa é maximizada, ainda mais, pela massificação da iconografia criada em torno dele, pelo clero dos séculos XIV a XVII, no período renascentista.

No original, porém, o sentido do nome Lúcifer é bem diferente, aprazível e ameno. ‘Lúcifer’ é a tradução da palavra hebraica הֵילֵל (Is 14,12) transliterada por hêlêl ou heylelque significa “o brilhante”; “estrela da manhã”. Mas, nem todas as traduções bíblicas têm a palavra “Lúcifer”, exceto as traduções King James e a Vulgata.

O nome Lúcifer e o glamour que acompanha o significado de “estrela da manhã”, e “portador de luz“ (latim) está relacionado ao planeta Vênus, ou ”Estrela D’alva” a qual aparece todas as manhãs, prenunciando um novo dia, com sua respectiva claridade que penetra e desfaz o véu escuro da noite. De muitos é conhecido o dizer: “Certo como o nascer da alva”. Lúcifer era um ser portentoso.

Os predicados atribuídos a Lúcifer, de “Estrela da Manhã” ou “Estrela D’alva” são, posteriormente, atribuídos a Jesus Cristo como se Lúcifer tivesse perdido essa dignidade. Em Ezequiel (28,14) temos uma dica: “Eras o querubim que estendia suas asas protetoras, e Eu fiz com que estivesses sobre o santo Monte de Deus. Andaste incólume, de um lado para o outro, em meio a pedras de fogo”.

Toda a glória, brilho e honra que Lúcifer ostentava, perdeu quando se rebelou e foi expulso do céu. “Foste perfeito nos teus caminhos desde o dia em que foste criado, até que a iniquidade se apoderou de ti” (Ez 28,15)

Acredita-se que tais predicados foram conquistados ou transferidos por e para Cristo, o qual passou a ser chamado de “a brilhante estrela da manhã” em Ap 22,16, segundo a concepção da teologia cristã, escatologicamente falando.

Causa espanto, que alguém com tanto brilho, poder e glória, se insurgisse contra seu criador, querendo mais brilho, mais poder e mais glória do que já detinha.

Lúcifer: Um Opositor Implacável

Muitos cristãos frívolos, de diversos segmentos evangélicos, zombam de Satanás com chacotas semelhantes às que fazem com o boneco de Judas, no sábado de aleluia. Eles assumem esse discurso de forma velada e irreverente, como se Satanás já estivesse antecipadamente imobilizado e inoperante. Alguns pregadores no auge das suas pregações atoleimadas, afirmam até, que ele já teve sua cabeça esmagada e há muito tempo está ‘esbanguelado’ e desmilinguido.

Este modo de pregar corresponde a um tolo pregando para vários tolos reunidos, crédulos em tolices. Todos juntos e misturados. Se assim fora, por qual objetivo Lúcifer haveria de lutar? Por nada? Por outro lado, note-se o que Jesus falou sobre ele: “ Disse-lhe Jesus: Eu vi Satanás, como raio, cair do céu” (Lc 10,18).

Reflitamos: se qualquer um de nós fosse instado a entrar numa batalha, a primeira questão seria: qual a possibilidade que tenho de vencer essa luta? Quem entraria numa batalha perdida por antecipação?

Segundo a Bíblia, a coisa é diferente; ele ainda “anda em derredor como um leão que ruge, procurando a quem devorar” (1Pe 5,8). Quanto à ‘cabeça esmagada’ (Gn 3,15) segundo a mesma Bíblia, a descendência da mulher “ferirá” a cabeça da serpente. “Ferirá” é uma expressão tipicamente escatológica. Isto é, a cabeça da serpente ferida está, mas esmagada… ainda não.

Lúcifer: Um Rei Com Muitos Súditos

Lúcifer se opõe a Deus mesmo sabendo que não pode vencê-lo. Então o que ele quer? Resposta: sua peleja é para ter um grande reino para si, repleto de súditos. Ou alguém quer ser rei sem súditos? Ele quer um reino povoado por anjos caídos e por seres humanos, indiferentes a Deus. Tantos quantos ele puder levar. “Então, o Rei dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos” (Mt 25:41).

A influência de Satanás nos negócios do mundo é muito clara. João, em sua primeira Carta, diz: “Sabemos […] que o mundo inteiro jaz no maligno” (I Jo 5:19).

Como “príncipe deste mundo” (Jo 12,31) ele mesmo tentou a Jesus no deserto. Ou seja, sabendo que a missão de tentar Jesus era algo de extraordinária importância, ele mesmo se encarregou disto. Não mandou subalternos. O diabo levou Jesus para uma montanha muito alta e mostrou-lhe todos os reinos do mundo e sua riqueza, dizendo: “Eu te darei tudo isso, se caíres de joelhos para me adorar” (Mt 4,8-9).

Muitos cristãos esquecem que Satanás é um grande estrategista. Ele usa de inimagináveis ciladas para aprisionar os incautos. As batalhas que trava contra Deus e seu povo mostra que necessitamos de toda a armadura de Deus para poder resistir-lhe. “Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para poderdes ficar firmes contra as ciladas do Diabo” (Ef  6,11).

Conclusão

Notemos que Jesus não contestou o diabo quando este lhe disse que era dono dos reinos e das riquezas deste mundo. Jesus reagiu apenas contra a pretensão do diabo, de querer que caísse de joelhos aos seus pés (Mt 4,8-9). O diabo ofereceu a Jesus, uma parceria no seu reinado.

O diabo imaginou que Jesus era usurpador, traidor e ganancioso como ele. Imaginou que Jesus se dispôs a morrer na cruz somente pensando em ser o Rei da Glória e não por amor aos seres humanos. Ele queria tirar Jesus do seu propósito sacrificial, tentando induzi-lo a ser Rei, sem passar pela cruz.

Refletindo sobre a conduta do ímpio, sua conduta é, em tudo, semelhante à de Lúcifer. Pode isso tratar-se da transferência do caráter maligno de um para o outro? Provavelmente. O certo é que o modo de agir de ambos é egocêntrico, insaciável, destrutivo, enganador, rebelde e sempre voltado para o mal (Mt 15,19).

 

            “RESISTI AO DIABO E ELE FUGIRÁ DE VÓS”

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