BATE-SEBA E SUA VISÃO DE ESTADISTA

O nome Bate-Seba (Betsabéia) significa a sétima filha ou, ainda,  “filha da promessa”. Este último significado talvez expresse algum voto feito pelos seus pais por ocasião da sua concepção e nascimento.

   A rainha Betsabéia, que viveu por volta de 1000 anos antes de Cristo, foi responsável por uma das mais importantes páginas da história do rei Davi e do Estado de Israel, unificado. Trata-se de uma narrativa bíblica, que oscila entre o lirismo e a tragédia, ajudando, inclusive,  a desmistificar a figura do grande rei Davi, ao expor o lado frágil de um ser nada além de humano, ainda que um extraordinário monarca.
Todos que emitem juízos de valores sobre o caso, colocam Betsabéia como  vítima da concupiscência, da sedução e de certa truculência presumível, do rei Davi. Mas pode não ter sido exatamente isto que aconteceu.

   Então, será que os textos bíblicos dizem tudo que precisamos saber, dessa história, e não há mais nada a desvendar a respeito dela? Ou será que nos acostumamos a ouvir o que temos ouvido e não queremos saber mais nada a respeito? Afinal, foi o rei Davi que  seduziu Betsabéia, ou foi ela que o seduziu? Para refletir sobre isto, seria bom seguirmos algumas pistas deixadas pelo escritor do Livro de Samuel (talvez o profeta Natã) no cap. 11.
Vejamos algumas dessas pistas:

  1.  A)No tempo em que os reis saíam à guerra, Davi mandou seu general Joabe à batalha e ficou em casa… Relax. Pelo texto, deduzimos que Betsabéia morava perto da casa real e teria condições de saber que o rei gostava de passear pelo alpendre dela, às tardes, depois de tirar sua soneca. Davi, pelo que diz o texto, dormia relaxadamente às tardes e quando se levantava costumava passear pelo alpendre, olhando a bela paisagem dos arredores do Monte Sião, onde residia (2Sm 11,2).
  2. B)A Bíblia diz: “e era muito bela a mulher” (2Sm 11,2). Por que o autor faz essa observação dentro da narrativa da queda de Davi? A priori, essa observação parece uma justificativa pela atitude do rei, o qual não resistiu à beleza de Betsabéia. Por outro lado, por causa da sua beleza exuberante, ela se encorajou a não temer uma aproximação dele. Isto a faria, quem sabe, insinuar-se para ele.
  3. C)Os rabinos descreviam Betsabéia como uma mulher de mente brilhante, de extrema beleza e atribuem a ela grande parte da exuberância real e da sabedoria do filho, Salomão. Diante desse elevado conceito de beleza e de inteligência brilhante, não seria o caso de imaginarmos que ela poderia estar “se lavando” de propósito, em um lugar estratégico e em uma hora oportuna, a fim de ser observada e, por conseguinte, desejada por Davi?
  4. D)Observando melhor a narrativa, vemos que, por ocasião do auto-julgamento de Davi, o profeta Natã (de quem ela era aliada) coloca como vítima, o marido dela, Urias e não ela (2 Sm cap 11). Lembremos que Betsabéia se aliou ao profeta Natã, mais tarde, para recusar o reinado a Adonias (filho mais velho e herdeiro legítimo, por ser o primogênito de Davi) e passar o trono para Salomão, seu filho, de forma astuta e visionária.

  Nossas hipóteses não são conclusivas, porém, demonstram que essa mulher notável não tinha nada de ingênua. Ao contrário, ela demonstrou extraordinária visão de estadista, haja vista a forma como influenciou Davi, o profeta Natã e Salomão, durante toda sua vida, quase que manipulando-os, segundo o que lemos na Bíblia.

  Esta hipótese, embasada pelos fatos históricos, posteriores a ela e ao Rei Davi, reforçam nossa tese, pois foi nos dias de Betsabéia, (não pode ser coincidência) que Israel se transformou num grande e poderoso império, sobrepujando todas as nações vizinhas, como a Síria, Sidom, Tiro, Moabe e Amon, em riqueza e glória.
Para reforçar mais ainda nossa tese, depois que ela morreu, tendo morrido também, Salomão, seu filho, foi a vez de Roboão, reinar (I Rs 14,21). Por falta de sabedoria e, levado por maus conselheiros, este monarca foi o responsável pela divisão de Israel em dois reinos, o Reino do Norte – com dez tribos e o Reino do Sul, ou Judá, com apenas duas tribos, tendo-se perdido, desde então a condição de Estado pujante, como ocorreu durante o período dessa extraordinária rainha.
Ficam assim, as questões: por que o Estado de Israel foi tão pujante durante o tempo que Betsabéia atuou, primeiro como mulher de Davi e, depois, como mãe de Salomão? E, por que o mesmo Israel, não manteve o mesmo status de império, depois que ela morreu?
Caro leitor, tire suas conclusões.

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