O OBREIRO E O VÍNCULO INSTITUCIONAL

No dia sete de agosto de dois mil e dezesseis, fui convidado pelo Rev. Dernival Lopes Penha, presidente do Campo do Guará II, Brasília, DF, para ministrar uma palavra, especificamente, para líderes, na Reunião de Obreiros que ocorreu naquela data. Considerando que, dois meses antes, (em junho) havia publicado um livro com o título: Ética Cristã Para a Igreja do Século XXI, em parceria com o mesmo pastor, achei por bem abordar o tópico “O Obreiro e Sua Conduta Ministerial”, visto que, como disse antes, a reunião era para líderes.

Vínculo Institucional

A ideia central da preleção foi mostrar que o líder eclesiástico – também nominado de ‘obreiro’ – é, essencialmente, um sujeito institucional e, por conseguinte, seu vínculo ético é para com a instituição chamada Igreja. Trata-se de um vínculo muito forte e abrangente, do qual é quase impossível desvencilhar-se pois abarca, tanto sua congregação local, quanto a Igreja global, representada por um só corpo místico, em todo o mundo.

O vínculo é tão abrangente, que um líder eclesiástico, devidamente reconhecido e investido de autoridade, não tem compromisso ético e moral somente com sua congregação local. Ele assume compromisso com o corpo místico, cuja cabeça é Cristo, com a cidade onde mora e com a população do país, se esse líder tiver projeção nacional, como Silas Malafaia, Antônio Inácio de Freitas, Manoel Ferreira, José Welington, Caio Fábio, Edir Macedo, Valdemiro Santiago, Hernandez Lopes, R. R. Soares, entre outros.

Os evangélicos, até conseguem identificar e apontar eventuais atos falhos de líderes eclesiásticos, pontuais, apontando as ‘denominações’ às quais eles pertencem. Qual evangélico não sabe a qual denominação pertence o Bispo Edir Macedo, por exemplo?

Já os não evangélicos, geralmente generalizam e tomam a parte como o todo. Isto é, como eles não entendem como funcionam as denominações, fisiologicamente falando, costumam apontar o faltoso ‘nacional’ apenas como o “crente” fulano de tal.

Como Ficam os Obreiros Não Convencionais?

Como obreiros não convencionais, consideram-se aquele que não são vinculados a nenhuma convenção, bem como a nenhuma igreja local. São os obreiros ‘soltos’, desvinculados e não submetidos às convenções ou regras gerais, de alguma denominação.

No meio eclesiástico não soa bem imputar boa índole a qualquer obreiro, que não seja vinculado a alguma denominação (igreja). Essa restrição abrange o modus operandi das igrejas e denominações em geral, inclusive da religião católica. Um obreiro sem vínculo institucional, no geral é enquadrado e conhecido, segundo os critérios do fenômeno religioso, como curandeiro(a), benzedeira(o), mago(a), bruxo(a), etc.

Esta classe de obreiros místicos independentes, geralmente saídos ou excluídos de uma igreja, não se submete às instituições eclesiásticas e nem à casta sacerdotal respectiva, por isto ela não é bem vista pelos clérigos, por, segundo estes, representa risco à preservação da doutrina assumida pela igreja, em geral, podendo ocorrer a subversão das doutrinas bíblicas.

praxis religiosa dos obreiros ‘desigrejados’ e/ou magos’ (sem vínculo institucional) consiste em atender as pessoas que os procuram, em espaços, principalmente residenciais, onde oram, ‘revelam’, profetizam, praticam magia, consultam entidades, fazem despachos, benzem, decretam e declaram curas, etc., tudo isto atendendo à demanda dos que os buscam para solução dos seus problemas cotidianos, existenciais e materiais, como curas, riquezas, prosperidade, recuperação de um amor perdido, casamentos frustrados, maldição etc.

Nesse contexto, ou pano de fundo, os ‘magos’ da religião, geralmente nunca levam em consideração a necessidade de perdão dos pecados, da conversão ou da santificação. Os interditos nuca fazem parte dessa práxis religiosa. Com isto, consideram como necessidades religiosas somente a solução dos problemas presentes, desprezando a perspectiva do ‘além”, quer seja bom, quer seja mau.

Conduta Comum ao Obreiro

Naquela ocasião discorri sobre o tema, abordando um ditado (há quem diga que é mineiro) que diz que, “toco pequeno é que arranca unha”. Ou seja, as pequenas atitudes impróprias, do cotidiano de alguns líderes, geralmente os inviabilizam junto aos grupos sociais, dos quais fazem parte, tornando-os obreiros censurados, rejeitados e inaptos. Um obreiro com seu ministério sob censura, é como uma pessoa com corrente nos pés.

Baltazar Gracian, em sua obra, A Arte da Prudência (1650) diz que, “o homem […] sábio na expressão, prudente nas ações é aceito e até desejado para privar do seleto grupo dos discretos”.

Logo, a conduta do obreiro, em casa, na rua, na quadra, no bairro e na cidade onde reside é importante para o reconhecimento e boa fama da igreja que dirige ou congrega.

Certas congregações experimentam grande crescimento numérico, graças à conduta apropriada do seu corpo de obreiros. Por outro lado, a eventual má fama de alguns obreiros espalha-se rapidamente e termina impregnando desestimulando as pessoas da comunidade, as quais evitam fazer parte da igreja local, que detém tais características.

 Hierarquia

A Igreja é uma instituição hierarquizada. Sem essa hierarquização, é praticamente impossível, seu governo. Portanto, é uma instituição com forte viés ético expresso em regras objetivas, subjetivas e vínculos fortes. As regras objetivas estão, geralmente, expressas nos Estatutos e nos regimentos internos. Por sua vez, as regras subjetivas (intimistas) só são captadas com muita percepção.

É impossível, por exemplo, que um crente não dizimista, não ofertante, desconectado com horários, vestimentas sóbrias, respeito e relacionamento saudável etc., goze do mesmo status de quem prima por observar tais preceitos. Os preceitos subjetivos estão implícitos, ainda, no modo de falar, vestir, agir, interrelacionamentos etc.

Pequenas atitudes às vezes emitem grandes sinais, positivos ou negativos. Podem indicar boa/má vontade, obediência/rebeldia, disposição/indisposição ou subversão da ética geral da instituição.

Vejamos alguns hábitos que têm atrasado a vida ministerial de muitos obreiros e das congregações que dirigem ou onde congregam:

  1. a) Sempre atrasar para cultos, reuniões e outros compromissos.
  1. b) Faltar frequentemente aos compromissos oficiais assumidos frente à sua comunidade e apresentar desculpas inconsistentes.
  1. c) Trajar-se fora dos padrões mínimos de sobriedade, objetiva ou subjetivamente convencionados pelo grupo ao qual
  1. d) Insurgir-se contra seu líder espiritual, sem nenhum motivo justificável, como fizeram Miriam e Arão (Nm 12,1) e Coré, Datã e Abbirão(Nm 16,12)contra Moisés. É bom que se diga que estes ao se insurgiram contra Moisés o fizeram contra o próprio Deus, que foi quem autorizou Moisés.
  1. e) Reivindicar direitos sem primeiro ter cumprido seus deveres frente ao grupo social que o acolhe. Os deveres de um obreiro, geralmente, limitam-se a respeitar as pessoas, amá-las, visitar enfermos e outros irmãos necessitados e compartilhar o pão com quem não tem.
  1. f) Omitir-se das convocações e reuniões feitas pela igreja a qual pertence e de tomar decisões de sua competência. O obreiro omisso não encontrará justificativas perante o Senhor Jesus, por ter sido indiferente ao governo da Igreja.
  1. g) Mostrar-se desinteressado nos assuntos internos da sua igreja como forma de não comprometer-se. A frase preferida do obreiro desinteressado quando a coisa aperta é: “Não tenho nada a ver com isso”. Será que não tem mesmo?
  1. h) Insurgir-se ardilosamente contra a hierarquia da igreja, sem motivo que justifique, como Diótrefes, que queria ser superior ao Apóstolo João (3Jo 9-10). Ou porque o seu dirigente é mais humilde ou mais novo. A isto denomina-se arrogância, presunção e soberba.

Sinonímia Para Escamotear Dízimos e Ofertas

Alguns obreiros e congregados têm apelado ao recurso da sinonímia, como forma de tentar escapar do dever de contribuir com dízimos e ofertas, para a obra do Senhor.  As perguntas recorrentes usadas como desculpas são: A palavra correta é “entregar”, ‘pagar” ou “devolver” o dízimo? Outros alegam que o dízimo não é uma instituição neo testamentária.

Primeiro, há de convir que o sinônimo é o de menos, para quem entrega o que é do Senhor, como um irrefutável ato de fé. Bem mais importante que a importância da sinonímia, é que os dízimos e as ofertas cheguem na tesouraria da sua igreja local, de acordo com os preceitos bíblicos. Sem isto a igreja não tem como sobreviver, materialmente.

Em segundo lugar e para citar somente uma passagem do Novo Testamento, preste-se atenção à essência do texto de Mateus 23,23. Nele, Jesus diz que os fariseus entregam o dízimo da hortelã, do funcho e do cominho e que devem continuar a fazê-lo sem, contudo, desprezar a Lei, cuja essência é a justiça, a misericórdia e a fidelidade.

Na ocasião, mostrei biblicamente como surgiu a instituição dos dízimos e ofertas.  Ou seja: a) em Ex 12,23 Deus livra os primogênitos, ainda na terra do Egito; b) em Lv 3,13 Deus toma tais primogênitos para si; c) em Nm 3,41 Deus manda fazer o recenseamento dos primogênitos, para que o povo saiba quantos são; d) em Nm 3,45 Deus ‘devolve’ os primogênitos às suas respectivas famílias, mas, em troca toma os Levitas, para assumirem o lugar daqueles, porque o Senhor precisava de pessoas para tocar a religião de Israel, o Judaísmo e, principalmente, a instituição do Templo, que mais parecia uma cidade.

Segundo Nm 18,23 os levitas não receberam terras como herança, embora precisassem do sustento, como as demais onze tribos. Para isto, em Nm 18,24 Deus ordena que os levitas vivam dos dízimos que as demais tribos lhes trariam, compulsoriamente. Em Nm 18,26 Deus institui o dízimo dos dízimos para os levitas da família sacerdotal.

Ou seja, os Levitas que não eram da família de Arão (família sacerdotal), dos dízimos que recebiam das outras tribos, retiravam a décima parte e levavam para os sacerdotes, para estes sobreviverem dignamente, já que viviam exclusivamente para os serviços religiosos.

Não se trata, aqui, de um estímulo à indiferença, alienação e obediência cega, por parte dos obreiros e líderes de qualquer igreja, através das múltiplas denominações. Entendemos que os líderes devem; sempre, comparar os procedimentos e o doutrinamento da sua denominação e dos seus líderes, com a Bíblia.

Quanto mais eles estiverem próximos, melhor.

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